04 novembro, 2009

Marrocos (parte II)

Recomponho-me rapidamente! Uma dia de cama e estou novamente em forma... ou quase!
Seguem-se três dias pelas montanhas e pelo deserto.

Vou na companhia de mais 13 mochileiros como eu. Dois italianos (casal), quatro espanhóis, três alemães (mais um casal), dois ingleses (irmãos), e dois canadianos. Todos eram viajantes experimentados! O casal alemão tinha estado em Portugal no ano passado e ele passara seis meses a viajar pela América do Sul à dois ou três anos atrás. A britânica exibia bandeiras dos países por onde tinham passado; índia, Vietname, Cambodja... Os canadianos - estudantes de medicina - conheciam globalmente a Europa e países como a Eritreia o Iémen ou o Djibouti... sentia-me na companhia ideal... Além de nós o motorista do mini autocarro, um marroquino na casa dos 50, de bigode, ligeiramente calvo, de sorriso espontâneo e um pé direito excessivamente pesado... inquiriamo-nos frequentemente da sua força espiritual, uma vez que conduzia o dia inteiro, sob um calor considerável, sem comer ou beber o que quer que fosse, ao passo que nós éramos incapazes de largar a garrafa de água...

Saímos de Marraquexe por volta das 8 da manhã rumo a Ouarzazate e ao Aït Benhaddou.
A estrada do desfiladeiro do Tizi-N-Tichka é assustadora... e incrivelmente bela! Subidas e descidas, curvas e contra-curvas indescritívelmente apertadas e uma vista soberba das montanhas do Atlas. No fim do desfiladeiro o desvio para a Ksar do Aït Benhaddou, classificada como Património Mundial da UNESCO.



Seguimos viagem para Ouarzazate e depois de 'almoçados' continuaremos pelo vale das rosas até ao desfiladeiro do Dadès.

O dia seguinte levar-nos-ia até ao desfiladeiro do Todra e às dunas de Erg Chebbi em Merzouga.
O pequeno-almoço não varia muito por estes lados; o pão berbere é obrigatório (e bem! que eu até gosto...) sumo de laranja, marmelada e manteiga. E assim de estômago cheio lá partimos.

Não há muito que relatar. Simplesmente a confirmação da ideia que me tinham deixado de que há dois Marrocos divididos pelas montanhas do Atlas. Um a norte e oeste; mais ocidentalizado, plenamente habituado e até vivendo em função do turismo e dos turistas, e um outro a sul; mais rural, mais genuíno e com as mais belas imagens do país.
Marrocos vale pelo seu todo e pelas suas pessoas, mas nada se compara às suas aldeias de construção em terra e telhados de colmo espalhadas ao longo dos oásis proporcionados pelos finos leitos de rio, às suas paisagens desérticas pontuados por picos de montanhas ou jogos de sombras nas dunas do Sahara e às gentes destes remotos lugares, mais autenticas e disponíveis.



Como disse não há muito que relatar por ser algo que tem de ser vivido! É preciso lá ir! É preciso lá estar... Mas deixem-me dizer que dormir no deserto, sobre a areia e com um manto de estrela por cima de nós... é das sensações mais indescritíveis da vida...



De volta a Marraquexe e à civilização, compro bilhete de autocarro para Fez. Estou novamente sozinho depois de ter deixado o grupo na praça Jemaa el-Fna a bebericar sumo de laranja por 30 cêntimos o copo depois de um jantar de grupo. Contudo fiquei de me encontrar em Fez com os dois canadianos o que viria a acontecer ao almoço desse dia.
Fez é uma das cinco cidades imperiais de Marrocos e o berço da expansão islâmica no país. Possui algumas das mais belas mesquitas e medersas que é possível visitar em Marrocos, apesar de ser mais conhecida pelas suas alcaçarias. É praticamente impossível evitar visitar uma, tal é a pressão para que o façamos... mas vale a pena, apesar do mau odor...



O fim aproxima-se, mas não sem antes visitar Meknès - outra das cidades imperiais - e Volubilis, uma antiga importante cidade romana, às portas de Moulay Idriss.
Meknès é completamente distinta de todas as outras cidades marroquinas por onde passei. Aqui o turismo é bastante menor - apesar de ser uma cidade claramente ocidentalizada (encontrei o primeiro McDonald's da viagem) e talvez por isso não haja pressão dos comerciantes ou qualquer comportamento distinto para com os turistas. Senti-me ignorado...
De facto não é uma cidade de grandes palácios ou com muito que ver, mas vale bem a passagem.
Nestes dois últimos dias viajo acompanhado por Domen, um esloveno de idade inferior à minha mas de maturidade e espírito viajante apreciáveis. Surpreendeu-se com os meus conhecimentos sobre a Eslovénia, apesar de eu nunca lá ter estado. Ficamos amigos e prometemos voltar a encontrar-nos... assim espero!



A viagem termina com a travessia do estreito de Gibraltar, deixando África perder-se do alcance do olhar e a vontade de regressar a entranhar-se cada vez mais...

1 comentário:

  1. Bem as saudades que tenho desse sumo de laranja fresquinho a 30cent... Realmente não se percebe porque é uma "iguaria" 10 vezes mais cara aqui em Portugal.
    Espero que também tenhas experimentado uma harira (sopa) bem condimentada... :-)

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