01 janeiro, 2012

Encontros Improváveis!


A pensão que consegui em Taşucu não tem água quente! A manhã é fria e por mais que espere de torneira aberta, a água não vai aquecer mais do que o tempo lá fora!.. tomo um banho gelado e ponho-me desperto para o resto do dia, que na verdade, se avizinha longo.
Enquanto aguardo na fila para comprar bilhete rumo à ilha de Chipre, dois tipos de aspecto forasteiro, cabelo loiro e olhos azuis, aproximam-se aparentemente com as mesmas dúvidas.
Matt e Tom chegaram ontem com a ideia de seguir para o Chipre mas tal como eu acabaram em terra. São sul-africanos e há sensivelmente 150 dias que saíram da Cidade do Cabo com destino a Londres – onde Tom tem família – para fazerem todo o caminho de regresso a casa, de bicicleta e pelo mesmo caminho que eu.
De bilhete na mão aguardo a vez deles, mas a ausência dos respectivos passaportes obriga-nos voltar mais tarde e enquanto isso regressamos à pensão onde passaram a noite para ‘empacotar’ tudo em cima das bicicletas e então regressar.
O contraste entre as nossas bagagens é colossal! Eu que não carrego mais que uma mochila de 35litros, com duas ‘orelhas’ de lado que juntas devem perfazer pouco mais de 5litros extra, fico impressionado com a quantidade de coisas espalhadas pelo quarto e que eles vão arrumando para depois carregar nas bicicletas, num processo quase mecânico. Uma viola, um saco cheio de livros e uma infindável quantidade de outras coisas que eu não sonharia sequer poder carregar.
Depois de tudo ensacado e na companhia de um chá oferecido pelo proprietário da pensão, fico a vê-los carregar as bicicletas enquanto continuamos as apresentações;
Tom tem 24 anos e terminou história, política e vídeo – uma estranha combinação! – enquanto Matt, um ano mais novo, terminou economia e finanças. Após concretizarem os estudos no final do ano passado, trabalharam durante 6 meses para amealharem o suficiente para esta viagem e se fazerem à estrada. Apesar de ainda nem sequer irem a meio – tencionam chegar à Cidade do Cabo no natal de 2012 – já falam em planos para uma nova aventura de rikcho pela América do Sul ou de kayak pela costa oriental da Índia até à Indonésia.
Sinto de imediato empatia por estes novos companheiros – afinal de contas estamos nas mesmas circunstâncias, com o mesmo percurso e pressuposto – e até mesmo um certo fascínio pela viagem que empreenderam (por mais que eu esteja numa situação algo semelhante).
Voltamos à agência para comprar os bilhetes em falta e a funcionária informa que temos de estar no porto duas horas antes da saída do barco.
Faltam umas 12 longas horas e nada mais resta que não seja esperar…
Instalamo-nos no restaurante adjacente que oferece ‘free wi-fi’, e enquanto nos acomodamos, um outro viajante de feições ‘centro-europeias’ junta-se a nós.
Andreas é austríaco e acaba de regressar de Van – na parte oriental da Turquia – com fotografias impressionantes do terramoto que há poucos dias varreu toda a região, provocando avultados prejuízos materiais e causando um ainda indeterminado número de mortos.
Andreas tem 40 anos e é funcionário dos correios. Conta-nos que foi jogador de ténis de mesa durante vários anos, competindo a grande nível e ao que parece, não se saindo nada mal! Aparentemente, todos os anos faz uma viagem de cerca de 1 mês em busca do sol que já não consegue encontrar por esta altura na Áustria, mas com o tempo que se tem feito sentir por aqui, mostra-se frustrado por este ano o termómetro não estar do seu lado…
Depois de alguns minutos de conversa, resolve juntar-se a nós no barco desta noite para o Chipre.
As horas vão passando lentamente entre dedos de conversa e sopa de lentilhas… Andreas fica completamente surpreendido com os nossos planos de viagem e incrédulo ao revelarmos a intenção de cruzar países ‘tão perigosos’ – diz ele – como o Sudão. Em contrapartida, os três mostramo-nos frustrados pelas informações e referências que a maioria das pessoas tem sobre determinado país ou região, serem apenas fruto do mediatismo da comunicação social e não de um conhecimento minimamente esclarecido da realidade dos locais e do povo que os habita.
Manhã alta quando desperto, já o barco prossegue mar adentro.
Apenas Andreas se encontra ainda na sala onde dormimos e diz-me que os outros companheiros estão no convés e eu subo à sua procura ainda meio ensonado. Estão sentados na companhia de Amir, um turco pouco dado às regras do mundo muçulmano e que, mesmo sendo ainda manhã, partilha a metade de uma garrafa de whisky com Matt e Tom, convidando-me igualmente a fazer parte desse pequeno-almoço ‘pouco ortodoxo’. Como parece não ser suficiente, Amir faz questão de oferecer uma cerveja a cada um de nós enquanto o barco avança lentamente em direcção à ilha e Andreas se anima pelo sol que finalmente resolveu ser solidário para com ele.
Após doze horas de espera e outras tantas depois de ter entrado no ferry, estou finalmente no Chipre, mais concretamente na auto-proclamada Republica Turca de Chipre do Norte. Matt e Tom vão seguir para Larnaca – no lado sul – onde são esperados por um CS e de onde 2 dias depois têm voo para a Jordânia. Andreas por seu lado quer ficar por aqui e vai à procura de um hostel que tem referenciado, 6Km para o interior da ilha, enquanto que eu não faço a mínima ideia do que fazer… ficar ou seguir directamente para Nicosia…
Troco um último abraço com os meus companheiros de viagem e sigo em direcção ao centro de Girne. No posto de turismo pergunto por autocarros para Nicosia ou por um hostel nas imediações. Começo a sentir-me verdadeiramente cansado e resolvo-me por um banho quente e uma cama, mesmo que ainda sejam 2 da tarde…
Manhã seguinte parto para Nicosia e atravesso a pé para o lado sul.
A divisória entre os dois lados do Chipre é sem duvida a mais estranha fronteira que alguma vez cruzei. Entre os dois lados há uma terra de ninguém, guardada por capacetes azuis e forcas da ONU; uma linha que divide inclusive a própria cidade e que me faz lembrar Berlim nos tempos do muro.
Não sei se é de mim ou mesmo da cidade, mas Nicosia parece-me completamente aborrecida. O estado de espírito também não ajuda; a noite anterior foi turbulenta depois de uma paragem de digestão que me deixou fisicamente enfraquecido.
Resolvo prosseguir para Paphos e no dia seguinte para Limassol. Por fim já não é apenas Nicosia mas sim toda a ilha a parecer-me aborrecida e não fosse Marios – o meu CS em Limassol – a providenciar umas noites de alguma animação, julgo que teria fenecido ao tédio…
Marios é um miúdo de 20 anos a estudar no Chipre e que vive aqui apenas com a irmã. É um Tessalonicense fervoroso e um apaixonado pela música grega.
Na primeira noite, sou convidado para um concerto jazz, e duas noites depois, na companhia de alguns dos seus melhores amigos, para uma noite de musica tradicional grega, onde se atiram cravos aos músicos e onde os meus anfitriões mostram todos os seus dotes de dançarinos…
A minha curta estadia em Israel esgota-se ao fim de 3 dias.
Ofer – que reencontrei em sua casa depois de em Maio o ter recebido na minha – deixa-me na central de autocarros onde seguirei em direcção a norte para cruzar a fronteira do Rio Jordão para o lado da Jordânia.
Compro o visto e dirijo-me ao oficial para que seja carimbado e tenha permissão para entrar no país. O agente alfandegário interroga-me sobre onde vou ficar, o que faço, quantos dias pretendo ficar na Jordânia, mas as minhas respostas parecem estranhar ao meu interlocutor;
- Ainda não tenho onde ficar. Vou procurar. – Digo. O agente parece desconfiado.
- Sou arquitecto.
- O que é isso? – Pergunta-me…
Procuro na mochila o caderno de viagem e mostro alguns rabisco por forma a explicar a minha ocupação e com a ajuda do guia que trago comigo, mostrar-lhe que o meu interesse é visitar umas ruínas nas imediações e seguir para sul.
Por fim, faz-me olhar para um reconhecedor da íris, passando-me o passaporte e anunciando com um sorriso;
- Este é Mateus Brandão, o arquitecto que vem de Portugal…
Quando saio do táxi em Al-Mashari’a e ainda pondo a mochila às costas, alguém se dirige a mim em árabe. Um indivíduo de feições queimadas pelo sol, barba negra e aspecto forte, responde-lhe igualmente em árabe e dirige-se a mim em inglês;
- Parece que estás à procura de qualquer coisa!?.
Não tem um minuto que deixei o táxi! Explico-lhe que tenciono apenas visitar as ruínas e que procuro um ATM para levantar dinheiro. Diz-me que o siga e que não fale com mais ninguém, com uma expressão de quem diz; ‘não são de confiança’…
Apesar de ter sempre um ‘pé atrás’ nestas situações, a tendência para crer nas pessoas é maior do que qualquer receio e deixo-me levar… enquanto aguardo para levantar dinheiro Ali apresenta-se e pergunta-me onde vou ficar esta noite.
- Não sei! Há algum hotel ou pensão por perto? – Pergunto.
- Não! – Responde-me. – Queres ficar em minha casa?
Aceito de imediato! Poder fazer parte do quotidiano de uma família local, nem que por um ou dois dias, é um privilegio a que nenhum viajante se nega, revelando-se esses momentos, os mais marcantes de qualquer viagem.
Ali leva-me para casa dos pais. Uma habitação inacabada – como quase todas na Jordânia – com um portão azul, perro, onde um grupo de crianças parece tão admirada quanto feliz por ver uma cara estranha e poderem dizer algumas palavras em inglês;
- Hi! How are you? What’s your name?
Descalço-me para entrar. Cumprimento um dos irmãos de Ali presentes na sala com o habitual; ‘salaam ’alaykum’ e sou convidado a sentar. As mulheres estão todas na sala adjacente e precinto que haverá chá não tarda nada. Mais irmãos vão entrando e saindo e acabo por lhe perder a conta. O chá é servido e o pai de Ali faz-nos também companhia. É um homem de olhar delicado, barba branca e um caminhar curvado pelo peso da idade. À cabeça usa um tradicional lenço beduíno de cores vermelho e branco.
Fazem-me imensas perguntas, mas antes de me interrogarem sobre a minha tendência religiosa, querem saber se os meus pais ainda são vivos, quantos irmãos tenho, se sou casado ou tenho filhos. Descobrirem que apenas tenho um irmão e que com 29 anos contínuo solteiro, deixa-os completamente pasmados.
Servem-me fruta e desdobram-se na sala para nunca me deixarem sozinho. Estando longe de casa, fazem questão de dizer que enquanto ali estiver serão eles a minha família e que cuidaram de mim como de um filho…
Explico o que me traz a Al-Mashari’a e Ali diz que vai arranjar um condutor para no dia seguinte me levar a ver as ruínas. Aparentemente não há como ir a Umm Qais sem ser de táxi, de maneira que quer encontrar alguém da sua confiança e que não me cobre também mais do que o normal.
Um dos irmãos de Ali está prestes a começar a sua casa. Aqui ninguém sabe o que é um arquitecto mas depois da minha explicação, fazem-me chegar papel e caneta e põem-me de imediato a trabalhar. Pedir a um arquitecto para do nada fazer um esboço, é como aquelas entrevistas de televisão em que pedem a alguém para cantar, ao que o entrevistado cede ainda que contrariado e por apenas alguns segundos.
Os aromas da cozinha invadem a sala. As especiarias anunciam o jantar para breve. Um enorme prato de arroz com um bom naco de frango, salada e bastante pão é servido numa bandeja à minha frente.
Fico por fim sozinho. O único momento em que todos abandonam a sala é precisamente durante as refeições. Durante a noite inclusive, o pai de Ali estende o colchão no centro da sala e dorme a meu lado.
Não chego a conhecer mais nenhum compartimento da casa que não seja a sala – onde a única mobília é um armário para a televisão e diversas almofadas espalhadas em todo o perímetro – e a casa de banho, que na verdade fica fora da habitação, num cubículo improvisado.
Aparentemente a maioria das casas não tem mais de três compartimentos; uma sala, um quarto – onde dormem todos os elementos da família – e uma cozinha. A casa de Ali tem exactamente esta configuração. Sente vergonha pela sua casa, de tal maneira que não ma quer mostrar e só na segunda noite, depois de um dia inteiro juntos e na iminência da minha partida, sente a confiança necessária para o fazer.
Naquela casa, que também não é propriedade sua – é arrendada – a peça mais valiosa deve ser a televisão. Ali tem 3 filhos e outro parece vir a caminho, e todos dormem no mesmo compartimento. A cozinha não terá mais de 4 metros quadrados... depois de muito hesitar e livre de qualquer pejo, insiste para que durma em sua casa nessa noite. Tínhamos combinado voltar a casa do seu pai às 9 da noite e enquanto me encho de pipocas que cozinharam especialmente para mim, Ali recebe vários telefonemas da família na outra casa, insistindo para que eu volte. Ali ausenta-se para resgatar a minha mochila mas quando volta, diz-me que tenho mesmo de regressar porque o resto da família me espera como prometido. Vejo-me no meio duma disputa pela minha presença… por maiores que fossem estas casas, elas transbordariam sempre destes corações abertos a um estranho que sem qualquer intenção ou aviso prévio invadiu as suas moradas…
Regresso a casa da família de Ali e o seu pai repreende-me por não ter regressado como prometido. Desfaço-me em desculpas mais como quem agradece, ficando com a sensação que nunca conseguirei retribuir plenamente a generosidade com que fui recebido.
Na manhã seguinte levanto-me cedo, ainda sem que o sol espreite, para seguir para Amman. Toda a família está a pé para me preparar o pequeno-almoço e se despedir de mim. O pequeno-almoço é uma autêntica refeição, com humus, iogurte, salada de tomate e pepino, falafel e pão. De estômago cheio despeço-me de todos. Ali levantou-se propositadamente para se despedir de mim e me levar até ao autocarro que fica apenas a alguns metros no final da rua. Depois da última foto com os pais de Ali, um abraço paternal e choroso aperta-me o peito. O seu pai chora enquanto diz que terei ali sempre um lugar onde voltar e onde tenho de regressar com a minha família.
De mão no peito – ao costume árabe – repito incessantemente e no mais profundo reconhecimento;
- Shukran! Shukran! Shukran…
Os autocarros na Jordânia só seguem quando cheios e qualquer que seja a viagem, não custa mais de 2 euros.
Em Al-Mashari’a, o motorista dá várias voltas de um lado para o outro da única estrada que atravessa toda a povoação, até encher e podermos avançar. Não consigo deixar de pensar em Ali e na sua família, e na forma calorosa com que me receberam. Antes de partir, Ali voltou a pedir-me que não me esquecesse de si e que quando regressasse a casa lhe enviasse uma carta de forma a tentar ajuda-lo a conseguir o necessário para a obtenção de um visto para poder viajar para a Europa. Disse-me várias vezes que precisava de trabalhar para sustentar a família, não se importando de passar uns anos fora, eventualmente na Bélgica onde tem um amigo jordano também a trabalhar.
O autocarro enche por fim em direcção a Irbid e eu penso em como gostaria de o poder ajudar!..
Rumo a Amman com duas paragens pelo meio; Ajloun – um castelo árabe construído como protecção contra os Cruzados e elo de uma cadeia de fortes que permitia transmitir mensagens entre Damasco e o Cairo num único dia – e Jerash, um conjunto de ruínas romanas.
Em Amman sou recebido por Neil. Quando chego a sua casa pergunta-me de onde sou, o que revela que prestou pouca atenção ao meu perfil ou que recebe tanta gente que lhes perde o rasto. Na verdade Neil não tem grande acesso à Internet, de maneira que quando recebe pedidos de alojamento apenas diz que sim…
- Sou de Portugal. – Digo.
- Portugal?!
A surpresa instala-se porque no quarto adjacente está Ricardo e Laura, um casal português que está em Amman depois de umas semanas a viajar pelo país, com uma pequena incursão pela Síria. Depois de mais de dois meses de viagem são os primeiros portugueses que encontro no caminho e inesperadamente, alojados pelo mesmo CS.
Regressam a Portugal no dia seguinte, mas antes disso e na companhia de Yazed – um amigo de Neil que veio de Petra para estudar com o objectivo de ser guia turístico e que anseia pelo fim dos exames para deixar a cidade onde não se consegue habituar a estar – encontramos um café de ambiente local, onde apenas homens fumam sheesha, jogam gamão ou dominó e vêm futebol da liga espanhola, para um chá e uma troca de impressões sobre as nossas viagens. Ricardo deixa-me ainda com algumas dicas interessantes, como por exemplo, uma forma de entrar na cidadela de Amman sem pagar e sem que isso seja ilegal…
Ricardo e Laura partem com escala em Londres, mas o avião que os leva trás por sua vez, Tim e Veronika, um outro casal que ficará alojado em casa de Neil e que me farão companhia durante alguns uns dias.
Tim é australiano, jornalista e fotógrafo freelancer. Veronika é argentina e professora. Apesar de morarem em Londres e fruto da ocupação de Tim, já viveram no Brasil, no Quénia ou em Itália, e já correram muitos outros países, desde a América Central ao Sudoeste Asiático.
Amman é uma cidade relativamente pequena e tudo o que há para ver vai pouco para além da cidadela e do anfiteatro romano. Do topo da colina onde assenta a cidadela, é possível abarcar quase toda a cidade que se desdobra até ás areias do deserto nas imediações, nas suas cores ocres, monocromáticas e monótonas.
É altura de seguir para sul ao encontro de Petra e dos beduínos que vivem nos seus arrabaldes. Deixo Tim e Veko com a promessa de reencontro na gruta de Khaled e Ghassab – os beduínos CS que nos irão alojar nas próximas noites e que vivem literalmente numa gruta no meio das montanhas de Petra.
O meu contacto CS é beduíno e toda a sua família – como muitas outras em Um Syhoune – foi forçada a abandonar as grutas de Petra aquando da classificação do espaço pela UNESCO. No entanto, alguns beduínos mantêm o seu modo de vida tradicional e encontraram outras grutas ou espaços onde montar as suas tendas, nas redondezas da mais importante atracção turística da Jordânia e onde a maioria deles trabalha vendendo souvenirs ou alugando camelos e burros.
O meu taxista leva-me até à aldeia e faz o favor de perguntar pelo King – aparentemente, o nome pelo qual é conhecido Khaled, o meu anfitrião. No entanto, é Ghassab quem me espera porque King já partiu para a gruta onde, para grande sorte minha, mataram e cozinharam um cordeiro.
Ghassab é o verdadeiro tipo das cavernas (sem qualquer conotação negativa!). Tem a pele ruborescida pelo sol, barba negra e rastas, que a par da roupa remendada, lhe conferem um certo ar hippie. Estudou durante 4 anos em Berlim e regressou para ser guia turístico mas a ocupação não o preenchia. Tendo vivido toda a vida em grutas, não concebe viver noutro lado senão nas montanhas e para isso resolveu procurar a sua própria gruta e criar uma espécie de eco-lounge onde o seu modo de vida pudesse fazer sentido.
Quando chegamos, depois de uma pequena viagem que só é possível fazer num 4x4, há um grupo em volta da fogueira bebendo chá e conversando enquanto outros se encontram a jantar no interior da gruta. Uma enorme travessa de arroz com grão-de-bico e cordeiro assado é rodeada por comensais entre eles Tim e Veko. Todos jantam da travessa e fazem-no com as mãos, e eu junto-me ao repasto. A carne é deliciosa e extremamente tenra. Numa comunidade tão pobre a carne é um luxo e reservada quase exclusivamente para os dias de festa e eu sinto-me honrado por este privilégio.
Não há noite como a do deserto! Um céu que mais parece uma cúpula pintalgada de estrelas, tão baixo que parece ser possível tocar. Os amigos regressam à civilização e é hora de sono nas montanhas de Petra. Para além da gruta, há uma tenda no exterior e estando a gruta já composta de dorminhocos, fico-me pela tenda. Quando amanhece, volto a ter aquilo a que chamo; ‘um quarto com vistas’. Um sol tímido espreita lentamente por detrás dos rochedos mais altos, deixando escapar raios de luz que dançam pelas montanhas abaixo. O frio da noite vai sendo substituído pelo aconchego do sol e todos se vão lentamente levantando…

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