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26 março, 2014

HISTÓRIAS DE APEADEIRO #2 - EM BUSCA DA 'MATÉRIA NEGRA' NAS PROFUNDEZAS DE CANFRANC

Sabe onde fica Canfranc? E o que acontece nos seus velhos túneis?

Vamos por partes.
Canfranc é um pequeno município da província de Huesca, com pouco mais de 500 habitantes. Fica entalado nos Pirenéus, 160 quilómetros a norte de Saragoça.
O que a torna tão especial, é a sua estação!


À data da inauguração, em 1928, era a maior estação ferroviária da Europa; um edifício Art Nouveau de 250 metros de comprimento, que compreendia para além dos serviços normais de uma estação, uma enfermaria, um posto fronteiriço e um luxuoso hotel.
A estação de Canfranc era o expoente máximo do progresso. O símbolo de uma economia em crescimento e o ponto de encontro entre a Península e o resto da Europa, através da ligação de Saragoça a Pau sob os Pirenéus.
No entanto, a imponente estação atravessaria períodos conturbados; foi curso de fuga de judeus e perseguidos do regime nazi - antes de Hitler tomar conhecimento da sua existência e do seu estratégico posicionamento, e a ter ocupado em 1942, passando a servir de porta de entrada ao ouro pilhado.
Ironicamente após a guerra, serviu igualmente de atalho para a fuga de muitos criminosos de guerra alemães.

A estação de Canfranc nunca conseguiu impor a sua importância e em 1970, era definitivamente encerrada após o descarrilamento de uma locomotiva no lado francês - que levaria à destruição da ponte de l'Estanguet - servindo de pretexto para os franceses não mais restabelecerem a ligação.

A estação de Canfranc e o túnel de Somport (com quase oito quilómetros de comprimento) ficavam assim perdidos no tempo... mas só até 1985.


Por essa altura, um primeiro grupo de cientistas do Laboratório de Física Atómica e Nuclear, aventurava-se no interior do túnel. Iam em busca "das partículas mais esquivas e enigmáticas do Universo".
Quase 30 anos depois, a procura continua. Trata-se da busca do invisível.
Sob o abrigo da montanha, procuram 'matéria negra' - fenómenos naturais raríssimos, que para serem observados é necessário penetrar na escuridão e no silêncio da terra, de forma a eliminar a radiação cósmica e qualquer tipo de interferência nos sinais procurados. A matéria que os cientistas acreditam constituir 90% da massa que compõe o Universo.
Além disso, procuram também neutrinos - uma partícula subatómica quase impossível de detectar devido à sua escassíssima massa - mas tão numerosa que em cada centímetro quadrado se encontram cerca de 60 milhões - e que "chove de forma constante sobre a Terra em viagens desde o Sol ou as super-novas".  

A estação de Canfranc pode não mais recuperar o esplendor da sua época áurea, mas do interior dos seus túneis, surgirão certamente respostas para melhor entendermos o nosso mundo.