O adeus
ao Parque Natural da Peneda Gerês não podia ter ficado entregue a melhores
mãos!
Depois
de toda a simpatia do casal da Ermida, descemos a Cabril cruzando o rio Toco na
fronteira entre os distritos de Braga e Vila Real e local de eleição para os
amantes do canyoning, ao encontro do
Paulo, que há muito vive apaixonado pelo Gerês e que encontrou aqui – ele também
– o lugar ideal para montar o seu negócio e refúgio aos dias agitados da
cidade, devolvendo a este velho parque de campismo rural, o esplendor merecido.
O Paulo
é uma pessoa de um entusiasmo contagiante.
Assim
que o contactamos – pouco mais de uma semana antes de aqui chegar – prestou-se
imediatamente a ajudar e a elaborar um programa para o fim-de-semana, tendo
aberto o parque propositadamente para nós… o Paulo foi ligando assiduamente –
como ainda o faz – inteirando-se sempre da nossa localização e situação, num
interesse que muito nos deixa reconhecidos… e para coroar tudo isto, havia uma
pessoa a quem nos queria apresentar;
Depois
de uma visita à ponte da Misarela no Ferral – ponte medieval e durante anos o único
acesso entre as duas margens do Rabagão, repleta de histórias que vão desde as invasões
francesas até aos mitos associados à fertilidade e a ‘forças diabólicas’ –
Paulo leva-nos ao encontro do Sr. José, que nos havia dito tratar-se de uma
pessoa com quem muito me agradaria conversar, culta e verdadeiramente conhecedora
de cada recanto do parque, para o qual inclusive já havia trabalhado;
- A
minha bússola só tem norte – confessar-me-ia mais tarde enquanto falava da sua
paixão pelo Gerês e pelos seus caminhos ancestrais.
A espectativa
era grande!
As grandes
viagens são feitas de pequenos encontros e este não foi excepção. É de momentos
e pessoas como o José – como sempre pediu que o tratasse, mas que a reverência
devida não me permitia a tal veleidade – que se vai alargando a minha ‘geografia das amizades’, cultivando uma ‘ecologia
humana’ – como ele próprio diria – cada vez mais vasta e distinta.
Ouvir
o Sr. José falar deixava-me inebriado!
De
ar informal, olhar cativante sob os óculos e barba grisalha, fala-me dos
tratados celebrados entre as gentes do norte e o rei, que ilibava o povo a
qualquer imposto, estando apenas responsável pela defesa das fronteiras. Fala-me
com amargura, da desflorestação causada pelo fogo que foi limpando todo um
manto arbóreo de carvalhos, que em tempos permitia percorrer sob a sua sombra,
todo o caminho entre Bracara Augusta
(Braga) e Roma, como escritos com 2000 anos o documentam.
No dia
seguinte em Pitões das Júnias, numa pequena caminhada ladeada de muros de pedra
solta que guardam vacas que ecoam com os seus badalos de tiras coloridas, somos
guiados pelo Sr. José ao mosteiro de Santa Maria da Júnias – uma edificação
perdida num pequeno vale sobre o Ribeiro do Campesinho. O mosteiro pertenceu às
ordens de Cister e aos Beneditinos, mas só a perseverança do povo da aldeia permite
que a igreja ainda esteja de pé.
Pelo
caminho, o Sr. José reconhece cada folha pelo seu recorte e sabe o nome de cada
pássaro pelo simples cantar. Distingue cada árvore e cada erva. No meio da imensidão
de musgos, líquenes e ervas rasteiras, vislumbra cenouras selvagens, camomila e
‘escusa merendas’, que como nos conta, marcam o início do encurtar dos dias. Vislumbra
amoras em excrementos que diz serem de uma raposa.
Do cimo
da estrada diz-nos cada pico na montanha e o nome de cada aldeia e sabe todo o glossário
e tradição rural; explica-nos que no que concerne às lides do campo, as ‘curtinhas’
– onde se plantam as couves, o feijão, etc. – eram da responsabilidade das
mulheres, estando os ‘lameiros’ – onde pastam as vacas – a cargo dos homens. Estes
últimos podiam ser também chamados de ‘campos de lima’, pois possuíam um
sistema de rega invernal, que permitia remover o gelo que se acumulava durante
a noite.
Atravessamos
o Carvalhal do Beredo e estamos de volta à aldeia.
O fim
da tarde é passado em amena cavaqueira na Taberna Celta da Ana e do Bruno, que
deixaram a margem esquerda do Douro para se fixarem aqui. É-nos servido sopa,
queijo e compotas com ervas. Azeitonas e um pão saloio com queijo e presunto a
que chamaria divinal…
Regressamos
a Cabril e ao parque de campismo que o Paulo deixa por nossa conta tendo que
voltar para a Maia.
No meu
mapa das amizades, há mais duas marcas indeléveis!
Abraço MATE! Força
ResponderEliminarSIGAAAAAA!
N1